segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Apoteose, de Mário Sá-Carneiro

Mastros quebrados, singro num mar de Oiro
Dormindo fogo, incerto, longemente...
Tudo se me igualou num sonho rente,
E em metade de mim hoje só moro...

São tristezas de bronze as que inda choro –
Pilastras mortas, mármores ao Poente...
Lajearam-se-me as ânsias brancamente
Por claustros falsos onde nunca oro...

Desci de Mim. Dobrei o manto de Astro,
Quebrei a taça de cristal e espanto,
Talhei em sombra o Oiro do meu rastro...

Findei... Horas-platina... Olor-brocado...
Luar-ânsia... Luz-perdão... Orquídeas-pranto...
........................................................................
- Ó pântanos de Mim - jardim estagnado...

Mário de Sá-Carneiro
(Paris, 28 de Junho de 1914)

I wish i could rest my tired & overworked mind!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Old Friends

Old friends,
Old friends
Sat on their park bench
Like bookends.
A newspaper blown though the grass
Falls on the round toes
Of the high shoes
Of the old friends.

Old friends,
Winter companions,
The old men
Lost in their overcoats,
Waiting for the sunset.
The sounds of the city,
Sifting through trees,
Settle like dust
On the shoulders
Of the old friends.

Can you imagine us
Years from today,
Sharing a park bench quietly?
How terribly strange
To be seventy.
Old friends,
Memory brushes the same years
Silently sharing the same fears

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

I also made a bus!

Em que Deus não acreditas?

Poderia ser apenas um sonho. Mas o mais espantoso é que é mesmo realidade! Aconteceu agora em Londres, espalhou-se por toda a Inglaterra e está a chegar a Espanha. Um grupo de ateus decidiu juntar-se para responder a um anúncio cristão que circulava nos autocarros de Londres afirmando que os não-cristãos iriam “arder no inferno por toda a eternidade”! A forma encontrada foi usar os mesmos autocarros da cidade para ostentarem cartazes contrapondo em letras garrafais: “Provavelmente Deus não existe. Deixa de te preocupar e goza a vida”. Pode parecer estranho mas tenho que dizer que me tornei fã desta campanha.

Em primeiro lugar é bom ver que a origem desta campanha assentou na reacção natural a uma mensagem cristã que mandava os não-crentes para o inferno. Uma mensagem cristã que seria razoável na Idade Média... mas nos dias de hoje é uma vergonha de todo o tamanho! Mais: esta campanha ateísta não deixa de ser inofensiva para o cristianismo: uma vez que estão a responder à letra a uma forma de mau cristianismo, também se trata de uma forma de mau ateísmo. A oposição a um cristianismo a brincar é feita por um ateísmo a brincar. Não se pode levar demasiado a sério.

Não é preciso muita atenção para ver que assenta na crença ingénua de que Deus é incompatível com o gozar a vida. E quem disse que é assim? A culpa divide-se claramente entre o cristianismo e o ateísmo mal formados. Se há pessoas que têm imagens terríveis de Deus, a culpa é da forma como nós os crentes falamos dEle (um falar que vai bem para além das palavras). E também é culpa dos ateus que não sabem bem em que é que não acreditam. Não sei o que é pior: se ignorar a Deus ou dizer mal dEle.

Infelizmente tenho descoberto que, na maior parte das vezes, quando alguém diz “não acredito em Deus”, aquilo que está, no fundo, a querer dizer é “não sei se acredito ou não, mas sei que não gosto dele”. Mais do que crenças alicerçadas num raciocínio cuidadosamente elaborado, a grande maioria dos ateus está apegada a um contacto negativo, traumático, azedo, com as pessoas da Igreja ou com Deus para sustentar a sua posição. Mas, como isso não é um argumento válido, esse sentimento é subtilmente mascarado e escudado atrás da fria isenção da razão científica. Ou simplesmente na recusa em pensar no assunto. Entretanto, as verdadeiras razões (que são mais emoções) ficam escondidas no inconsciente.

Por isso, quando somos confrontados por um ateu, para clarificar o que está em questão o melhor é perguntar-lhe: “em que Deus não acreditas?”. Muitos ficarão atrapalhados, e a sua descrição não corresponderá nem de longe nem de perto ao Deus em que eu acredito. Este é o ateísmo fraco. Mas com outros, poucos, será possível estabelecer um confronto desafiador mas ao mesmo tempo proveitoso, construtivo. É aí que o ateísmo tem uma contribuição imprescindível: obriga-nos a purgar os ídolos que veneramos, ajuda-nos a enfraquecer as crenças superficiais e a consolidar as crenças substanciais.

É por isso que, apesar da sua ingenuidade, esta não deixa de ser uma campanha de marketing com um potencial de efeitos muito benéficos. Começa por ser uma forma de trazer o debate sobre a existência de Deus para a praça pública, para as conversas de café. É um incentivo a que se aprofunde e clarifique o que é verdadeiramente crer. É uma ajuda preciosa ao questionamento do Deus em que acreditamos e daquele(s) em que não acreditamos.

No fim de contas, esta campanha é uma verdadeira bênção dos Céus. Se Deus é um deus que só chateia, que só existe para roubar a liberdade ao homem, que não lhe permite ser feliz... Se é assim, também eu me junto aos ateus! Valha-nos o ateísmo! Ainda bem que um deus assim não existe.

i just want you Stand By Me



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