segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Apoteose, de Mário Sá-Carneiro

Mastros quebrados, singro num mar de Oiro
Dormindo fogo, incerto, longemente...
Tudo se me igualou num sonho rente,
E em metade de mim hoje só moro...

São tristezas de bronze as que inda choro –
Pilastras mortas, mármores ao Poente...
Lajearam-se-me as ânsias brancamente
Por claustros falsos onde nunca oro...

Desci de Mim. Dobrei o manto de Astro,
Quebrei a taça de cristal e espanto,
Talhei em sombra o Oiro do meu rastro...

Findei... Horas-platina... Olor-brocado...
Luar-ânsia... Luz-perdão... Orquídeas-pranto...
........................................................................
- Ó pântanos de Mim - jardim estagnado...

Mário de Sá-Carneiro
(Paris, 28 de Junho de 1914)

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